quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Navegando em águas profundas



À primeira vista vê-se uma mulher
Que remonta às épocas distantes
Bela e formosa
Seu ventre é a vida, o portão para o mundo
Eternamente a nos ninar

Coberta por uma metálica estreiteza,
Sua sombra resvala,
Deixando duas paredes de calafrio
O mar beija tua maternidade
Que reflete em seu espelho sereiano.
Revestida pelo azul oceânico, verde e prateado

Rainha, é em nós o punhal
Sobre as ondas
Chora a dor
De seu filho vassalo
Uma deusa despedaçada
Socorrendo-nos em águas frias
Lamenta a nossa triste nação

Percorri os mais dolorosos mares
Perdida entre as mais violentas ondas,
Em meu pequenino barco de fé
Seu amor derrama-se sobre mim
Como nenhum outro

Sobá ilumine os meus dias
Mergulhe-me em tua compressão
Talvez tu passasses por minha porta mil vezes
E eu nada disse,
Estava a dormir
Entre flores tristes
Naquela solitária janela
Mil vezes oito, vim de muito longe
Filha da embarcação
Com saudades da espuma salgada
Já deves ter ouvido:
“És mãe daquela jovem iaô, cravada pela dor? 
Não é melhore ires busca-la? A rapariga dos doces amargos?”
E parece que te vejo responder:
“Sabes quem sou, por hoje, ela fica.”

De noite em noite
A cada bater do coração
Toque em meus pulsos
Amo a todos vós
Seres misteriosos da luz imortal
Estrelas guias
Nenhum agradecimento
Encherá as taças de meu merecimento
Segui o caminho longo uma ou duas vezes
Vez ou outra fui o próprio escuro da noite
E tu sempre me recebeste
Como a mais bela de todos os hóspedes

Areia clara, Tempo que faz tudo crescer
Que se cante dia e noite
Guarde com vós
Os meus cansados pés
Através da chama invisível
E as luzes cristalinas da noite
Ornamentos cinza
Do mar noturno
A forma de uma mão que foi minha,
Cada instante é um retalho de nosso velho povo

Desçam os vestidos brancos
E os braceletes de guerra
Uma grande árvore
Que se enrosca em um rio a desligar
Pouco depois
Chagará o metal
Banhado pelo fogo

Olô fê Iabá
Pandá, Iemanjá, Janaína
“Mãe dos filhos peixes”
Peça à Orunmilá-Ifá, o senhor dos búzios
E à Obatalá e Oduduwa
O céu e a terra
Que eu não conheça o silêncio
Ni portal oculto
Amo o teu canto, o teu colo
“Odoiá!”
Sobre as gotas aparentemente inocentes
Ao som do vento


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